A gente não precisa de mais uma ecobag

Toda vez que eu vou em um evento, a ecobag está lá de brinde. Invariavelmente alguma marca vai me dar algum presente dentro de uma ecobag. Ações sustentáveis produzem ecobags para dar para as pessoas que ainda não usam uma para fazer as compras no mercado.

Um tempo atrás eu fui organizar minhas bolsas, onde também ficam as coleiras das cachorras e as ecobags para eu pegar rapidinho antes de sair de casa. Dobrei muitas e continuei tendo muitas penduradas. Lembrei dessa minha arrumação um dia que a Nátaly Nery fez um post falando que, arrumando a casa, achou um suporte legal pra pendurar as ecobags. E que tinha dezenas (talvez centenas) delas.

A gente não precisa de mais uma ecobag.

Se a gente encara o problema do lixo produzindo cada dia mais e mais e mais reutilizáveis, a gente só vai gerar uma montanha ainda maior de lixo. O que fica bonito, afinal, é uma ecobag bem clean de algodão cru, que sempre tem que ser tecido novo da loja pra conseguir produzir essa demanda. Isso tudo pra produzir um montão de sacolas pra um montão de gente que, convenhamos, já temos um montão de ecobags em casa.

Eu sei que tô sendo meio redundante, mas é pra vocês perceberem como é ridículo isso tudo. Se eu quero deixar de usar as sacolinhas do mercado, eu provavelmente preciso de uma ecobag, talvez duas, talvez mais se eu more com MUITA gente. E eu tenho certeza que você já tem isso em casa porque ganhou em evento, alguém esqueceu na sua casa ou você comprou uma com dizeres bonitinhos (nada contra, a propósito).

O que a gente esquece é que a gente não chega no lixo zero, na sustentabilidade, se a gente precisa consumir mais – coisas novas ou usadas, coisas que vão reduzir o plástico ou não. Quanto mais a gente consome, mais a gente produz, mais a gente gera resíduo de produção (têxtil, sem reciclagem nesse caso), mais a gente tem coisas paradas sem uso em casa.

Tem um tempo que eu olho pra dentro e fora da minha casa e me assusto com o que tem se tornado ser mais sustentável. Quando eu comecei o blog, eu peguei retalhos de tecido que tinha em casa pra costurar meus próprios guardanapos de pano. Eu aproveitei saquinhos de tecido que vem com sapatos pra usar nas minhas compras a granel. Até hoje, a maior parte dos potes de vidro que tenho são reaproveitados de molho de tomate, palmito etc que eu comprei e até que catei no lixo dos outros. Os talheres que eu levava na bolsa eram os normais da gaveta até que comecei a viajar bastante de avião e achei uns de plástico de acampamento que não iam ser proibidos na bagagem de mão. Ecobag eu já tinha várias, como qualquer pessoa. Tudo sem custo, porque eu “comprei em casa”.

Algumas das muitas ecobags que tem se acumulado aqui em casa e na minha vida.

Ser sustentável e, mais ainda, ser lixo zero requer simplificar a vida. As escolhas. Principalmente o consumo. Consumir mais pra ser mais sustentável não é sustentável. Se a gente já tem, o melhor é usar aquilo que a gente já tem. A gente não precisa de mais uma ecobag.

A primeira foto do meu primeiro kit lixo zero: ecobag, guardanapo de pano feito por mim, talher “normal” e um pote de vidro como copo porque era o que tinha em casa.

Estou me organizando pra fazer uma limpa do jeito que a musa da organização Marie Kondo orienta (planos intensos para o Carnaval) e tenho certeza que terei dezenas de ecobags pra doar. Volto para contar os números. Por enquanto, fique com o lembrete: não comprar é, muitas vezes, o melhor jeito de consumir conscientemente.

Author: Cristal Muniz

Cristal Muniz decidiu em 2015 que iria parar de produzir lixo e por isso criou o blog Um Ano Sem Lixo. Ao longo desses anos já deu várias palestras em escolas, universidades e eventos contando quais são os principais desafios e o que mudou na sua vida para alcançar o objetivo do lixo zero. Um ano virou uma vida e em julho de 2018 publicou o livro Uma vida sem lixo (Editora Alaúde), o primeiro livro sobre como ter uma vida lixo zero do Brasil.

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  • Se for doar para seguidores, aceito e até pago o frete hahaha por incrível que pareça, não tenho UMA aqui em casa (uma amiga levou a minha e nunca mais trouxe)

  • Deus me dibre me roubarem minhas ecobags…RS
    Tenho duas dentro da mochila do dia a dia.
    Tenho uma mochila da feira e dentro tem uma ecobags e alguns saquinhos plásticos pra algumas frutas que possam molhar o tecido.
    Todas foram ganhadas duas de eventos e uma q meu tio tirou do lixo.

    Qdo pedem emprestadas já sabem que é melhor devolver pq senão meus pensamentos não os deixarao dormir…rs

  • Em dezembro fiz uma limpa em casa (empolgada com o #minsgame do The Minimalists) e cheguei a esta mesma conclusão. Tinha mais de 30 ecobags em casa, e uso no máximo umas 4 – acho melhor levar mais de uma para o mercado para separar o peso das compras.
    Enfim, separei as que gostava mais e o resto foi tudo para doação.

  • Eu não tenho muitas, então usei fronhas que estavam perdidas pela casa e fiz umas 3 ecobags. Concordo com você no quesito de que não comprar é ser sustentável, eu tinha pensando esses tempos que eu precisava de um canudo reutizavel, dps de refletir frente ao carrinho do ecommrrcr percebi que eu nao precisava, eu não tomo água de coco por aí, e não preciso de um para beber as bebidas por aí tbm, dps disso me senti até aliviada. O que quero dizer é que cada dia mais eu penso mil vezes antes das minhas ações. Obrigada por compartilhar seus conhecimentos com a gente! <3

  • Olá,
    Você já doou suas ecobags? Se não, gostaria de recolhe-las. Estou produzindo uma sacola de presente a partir de restos de tecido e gostaria de reaproveitar esse material que tens!

    Obrigada pela atenção.

  • uma reflexão necessária. Acho que o ponto é que estamos tão imersos em uma lógica do consumo que o trabalho de crítica e reflexão deve ser constante e permanente. Essa mudança coletiva precisa desse tempo e persistência para que a longo prazo possamos mudar a própria lógica que nos permeia. isso faz com que apenas reduzir e reciclar não sejam os suficiente, é necessário repensar mesmo, reestruturar valores.

    acredito que é um trabalho para uma vida e gerações.
    Porém creio que reflexões como a sua são passos importantes para isso.

  • Olá, Cris
    Antes de tudo, adoro o seu blog, leio sempre, mas quase nunca sinto necessidade de comentar. Porém, hoje trouxe um pouquinho da minha experiência. Também passo por isso de acúmulo de ecobags, mas nas últimas faxinas, resolvi dar uma utilidade pras minhas, personalizo cada uma delas, pinto mesmo com cores naturais e muitas vezes só guache, e, faço de embrulho de presente. Minha avó ama, nunca tinha visto uma e hoje não sai sem a dela.

    • Sim, é uma ótima ideia dar elas de presente! Eu tenho usado também pra embalar presentes pras pessoas. 🙂

  • Oi Cristal, tudo bem?
    Conheci sua página por acaso no Instagram e estou amando, muitas dicas super interessantes para reaproveitamento.
    Tenho umas 10 ecobags que uso para fazer mercado, feira livre e levar meus pets no veterinário. Ainda utilizo sacolas plásticas em casa principalmente para o cocô das minhas meninas.

  • Sensacional essa reflexão, Cristal! A proposta de reduzir o consumo é ótima, mas acabou virando um mercado também, e caro. Comprei canudinho (e nem usava os de plástico…), comprei saquinho, sacolas, todos de tecido, e pra quê? Nem pensei que poderia usar o que já tenho em casa. Agora, depois de ler seu post, vou prestar mais atenção a esse assédio que a gente tem recebido da mídia que se diz preocupada com o meio ambiente. Muito obrigada por esse trabalho tão lindo que vc tem feito, de conscientização. <3

  • oi cristal,
    existe um episódio de “ursos sem curso”, que é um desenho em crítica à sociedade e as atitudes das pessoas, onde eles usam justamente a ideia da ecobag pra ilustrar a alienação que a gente pode voltar a ter mesmo buscando a consciência. tenho certeza que muitas pessoas ao lerem essa matéria aqui ficaram ofendidas, afinal é uma ECO bag hahaha

    obrigada por abrir nossos olhos aqui.

  • Só será mais lixo se elas forem entregues as pessoas erradas e as pessoas que já possuírem Ecobag aceitar mesmo sabendo que ja tem centenas em casa como foi mencionado. Sem contar que primeiro, a ideia é conscientizar, então não é todo mundo que tem a mesma noção que você, elas precisam ter noção do que vem acontecendo e a importância e da causa. Então…

    • Ecobag é a coisa mais batida que existe. Todo mundo sabe que existe, que pode usar, é um brinde que gera mais lixo, desperdício e resíduo.

      • Certo, concordo em termos com você! Nem todas as pessoas de cidades menores tem acesso ou consciência ainda, Se você sair da sua cidade e visitar uma feira de uma cidade do interior com 50 mil habitantes, talvez entenda o que estou querendo dizer. Mas concordo quando diz que devemos repensar o que consumimos e se realmente vamos usar o produto que estamos adquirindo. Se ecobag é um brinde batido, qual seria o brinde ideal , o que te deixaria feliz ao receber? Compartilha com a gente !!

  • Nossa! “Achei” seu blog e me identifico muito, porquê á alguns anos venho fazendo uma mudança interna e externa gradativa em mim.
    Você fala sobre assuntos que já havia lido e pesquisado, mas também nos lembra, de coisas óbvias, mas que se perdem nesse processo de sustentabilidade, reaproveitamento e minimalismo, que é por exemplo a frase “A gente não precisa de mais uma ecobag”, muito bem sacado tudo o que quer dizer essa frase, que as vezes esquecemos.
    Obrigado pelo seu conteúdo, que faz muita diferença no mundo.