Como ter um guarda-roupa mais sustentável

Diminuir o lixo trocando o que é descartável por reutilizável é relativamente bem fácil, eu já dei algumas dicas simples por aqui. Mas, quando a gente fala de outras coisas, fica mais difícil de saber como diminuir o lixo e ser mais sustentável. Por isso, no post de hoje eu quero falar e dar dicas pra gente aprender a comprar roupas de forma mais sustentável. 🙂

Ter um guarda-roupa sustentável não é nem só comprar roupa usada, nem só não comprar roupa, nem só ter roupas feitas com algodão orgânico. Ter um guarda-roupas sustentável é ter aquilo que você vai usar e usar tudo aquilo que você tiver. É cuidar, é questionar e se preocupar.

Você não precisa comprar uma peça nova todo mês

Definitivamente não precisa. Eventualmente você precisa de um vestido novo, um casaco, umas blusas. Não todo mês. Não adianta parar de comprar de lojas fast fashion e continuar agindo com uma consumidora de fast fashion.

Crédito: Un-fancy

Avalie o que você já tem

Tire todas as suas roupas do armário e avalie uma por uma. Deixe só aquelas que você realmente ama usar. Aquelas que você fica confortável e se sente bem. Pergunte pra cada item que você já tem e repita essas perguntas quando quiser colocar algo novo no armário:

  • Eu me sinto bem vestindo essa peça?
  • Eu consigo usar ela em diferentes situações?
  • Eu consigo combinar com outras peças no meu guarda-roupa (as meninas da Oficina de Estilo sempre falam que tem que combinar com pelo menos três, bem diferentes entre si)?
  • Vai continuar sendo bonita em 1, 2, 5 anos?
  • É bem feita, de qualidade?

Iniciativas como a Roupateca e a Lucidbag, bibliotecas de roupas onde você aluga peças por alguns dias também são muito legais. A gente não necessariamente precisa ter aquela peça, pode usar por um tempo e depois devolver.

Compre menos e seja mais coerente

Compre menos. Simples assim. Será que não tem roupa suficiente no seu guarda-roupa pra ficar um ano sem comprar? A Jojo começou o Um Ano Sem Zara justamente com esse desafio e deu muito certo.

Desde que eu comecei o Um Ano Sem Lixo, eu tenho focado na construção de um armário mais sustentável, mas também minimalista. Talvez, depois de fazer uma super limpa no seu guarda-roupa deixando só o que você ama, você sinta zero necessidade de comprar algo novo por um bom tempo. Foi o que aconteceu comigo. 😉

Mas ó, minimalista não significa tudo sem estampa, tá? No meu caso, significa um pouco porque é o que eu gosto de vestir. Mas se você gosta de estampas, de cores vibrantes, também dá pra ter um guarda-roupas enxuto e minimalista com seu estilo (vale demais ver as inspirações no instagram da @oficinadeestilo).

Esse paletó lindo eu comprei em um brechó, viu?

O produto mais verde é aquele que já existe

Vou sempre bater na tecla que comprar usados é mais legal do ponto de vista ecológico porque é um produto que já foi produzido. Mas não adianta encher o guarda-roupas de peças usadas só porque é baratinho. E, às vezes, comprar uma usada de péssima qualidade é pior que uma nova mas de alta qualidade e que vai durar muito.

Pode ser em brechós, que tem cada vez mais uma variedade legal de peças; pode ser em sites como o Enjoei; pode ser trocando roupas com as amigas, mãe, irmã, primas. Bora colocar essas roupas pra rodar o mundo! A gente economiza dinheiro, embalagem e recursos usando algo que ficaria parado.

Procure por qualidade sempre

Qualidade. A gente sempre fala pra buscar roupas de qualidade, mas como faz isso na prática? Assim: vire a peça do avesso e veja se a costura tá bonitinha, se não tem fio solto. Quando o avesso é embutido, todo bonito como se nem estivesse do avesso, é sinal de super cuidado. Tecidos muito fininhos ou tricôs bem abertinhos costumam estragar rápido se você não lavar na mão.

Às vezes, qualidade é mandar fazer roupas. Aquela costureira super caprichosa que faz tudo direitinho, com molde e costura embutida, pode fazer uma blusinha que vai durar muito mais. E claro, marcas locais normalmente tem qualidade superior às de fast-fashion porque não são costuradas às pressas em metas malucas e desumanas.

Consuma consciente

Se preocupar com o produto também é importante. Se a gente conseguir comprar de marcas locais que produzam roupas de forma ética, sustentável, com tecidos de algodão orgânico e que sejam lindas e a gente goste, é quase como ganhar na loteria. Mas eu sei que nem todo mundo tem dinheiro pra comprar essas roupas, porque é mais caro sim – porque é mais justo, paga a cadeia inteira, não dá pra nenhuma blusinha custar R$19,90 sem estar sendo injusta em algum(ns) ponto(s) da cadeia produtiva. Por isso eu sou tão fã dos brechós e das peças usadas!

Se responsabilize pelo depois

No Brasil, não temos reciclagem de tecidos. O que significa, em suma, que as roupas que não são mais usadas vão pros aterros sanitários, sem chance de reciclagem. Por isso, mesmo que a tentação de comprar seja enorme, pense em quanto tempo essa peça não estará anunciada na sua lojinha do enjoei ou numa caixa de doações. O mínimo que podemos fazer é aproveitar muito bem aquela peça, usá-la até o fim da sua vida, para compensar todo o custo ambiental da produção e tingimento do tecido, do transporte, da manufatura, das lavagens, etc.

Viu? Tem um montão de coisas pra pensar e fazer antes de comprar uma roupa nova. Mas o mais importante é o trabalho interno, é se questionar. A origem do produto é importante, claro, mas dar um passo pra trás é ainda mais. 🙂 Não consumir é muitas vezes o melhor jeito de consumir consciente.

Author: Cristal Muniz

Cristal Muniz decidiu em 2015 que iria parar de produzir lixo e por isso criou o blog Um Ano Sem Lixo. Ao longo desses anos já deu várias palestras em escolas, universidades e eventos contando quais são os principais desafios e o que mudou na sua vida para alcançar o objetivo do lixo zero. Um ano virou uma vida e em julho de 2018 publicou o livro Uma vida sem lixo (Editora Alaúde), o primeiro livro sobre como ter uma vida lixo zero do Brasil.

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  • Olá!
    Amei o texto, a poucos dias atrás me questionava sobre as roupas que usava, sua produção, material utilizado, mão de obra, etc.
    Em meio aos questionamentos, cheguei a conclusão que, as roupas antigas podem encontrar um novo dono(a), ou podem passar por uma transformação e, ou customização.
    Podemos também, dá preferência ao trabalho daquela vizinha costureira, consumir material(roupas, etc)orgânico,que não passaram por um processo de produção que utilizou muita água, tintura que agride a natureza, mão de obra escrava, etc.
    Bem, ainda continuo buscando meios de consumir menos e passar para minha a importância de atitudes como essa, consumir menos e viver mais feliz.
    Obrigada pelo trabalho, é bastante inspirador e sigamos fortes na luta.
    Att.,
    Midori

  • Eu sempre tive receio de comprar e usar roupas usadas. Agora estou sendo obrigada a usar porque eu e meu marido estamos altamente endividados. Eu já quase não comprava roupas e eu sinto que as que eu tenho não combinam entre si (porque me deram de presente ou porque escolhi sem planejar) ou não me servem mais porque eu diminuí vários números. Está tudo largo. Vendo a minha precariedade e a minha tristeza por não ter como comprar roupas a minha sogra resolveu me dar roupas usadas que ela comprou. Ela sempre compra roupas usadas pra família toda dela. Ela é costureira, mas não tem tempo de costurar para si ou para os filhos, porque as pessoas vivem pedindo pra ela cobrar mais barato e ela acaba aceitando, aí fica costurando o dia inteiro a coitada porque quase não ganha dinheiro com a costura. Enfim, eu aceitei as roupas usadas e estou usando, mas eu me sinto meio desconfortável pensando que essa roupa foi de alguém que morreu ou que doou a roupa porque passou por uma situação triste com ela. Se eu soubesse de quem são as roupas e porque doaram eu ficaria mais tranquila em usá-las. E ficaria mais feliz se fosse uma escolha minha e não uma consequência de ser pobre, haha. Eu queria é comprar essas roupas ecológicas de algodão ou linho orgânico e fashions que são caras, sabe? Vejo em tudo em quanto é blog e não posso ter uma. E queria poder escolher uma roupa que combinasse comigo e não ficar aceitando qualquer roupa usada aleatória só porque sou pobre, hahaha. Porém, tenho que agradecer a minha sogra por tentar me ajudar. Seria bom se ela tivesse tempo de costurar uma roupa pra mim e ela quer fazer isso, mas nunca encontra tempo, rsrs. Uma hora a situação vai melhorar, espero. haha

    • Uma possibilidade é você aprender a costurar. Já pensou nisso? Eu fiz um curso de costura em 2003 pra poder costurar meus cosplays sem ter que passar por costureira. Hoje quando ganho uma roupa que não cai 100% eu mesma ajusto e também costumizo algumas. E você já tem uma pessoa próxima que costura, ela não poderia te ensinar? No início é complicado, mas depois você pega o ritmo e vai poder costurar pra você facinho, de repente você consegue até ganhar um dinheiro.

  • Adorei o post! Eu sempre tive essa consciência. Nunca gostei de ter algo sem uso, tanto roupa quanto outras coisas. E, embora possa ter vários sapatos, eu me sinto bem tendo poucos e usando até se acabarem. Eu nunca gostei de excessos e de ficar com aquela energia parada. Seu blog é excelente! Parabéns pela iniciativa! O mundo precisa de pessoas como vc.

  • Às vezes as pessoas só se desfazem das roupas porque enjoam depois de usar 1-2 vezes e querem comprar outras mesmo xD existem várias pessoas que acabam fazendo isso sem nenhuma consciência, infelizmente. E acho que é mais fácil você estar recebendo essas roupas de segunda mão do que roupas de pessoas que morreram ou que passaram por algo ruim com a roupa – a primeira opção é bem mais frequente 😉
    Aqui em casa sempre recebemos roupas de tias e primas, pois apesar de não estarmos passando por necessidade, somos a parte da família que ganha menos, e minha mãe também tem outras pessoas pra doar. Então a cada estação chovem roupas aqui, pego algumas peças que são mais a minha cara e depois de lavar e colocar no meu guarda-roupas até me esqueço de onde as peças vieram xD
    O único problema nisso tudo é que, até pouco tempo atrás, eu acabei guardando e acumulando muita roupa, mesmo que eu raramente gaste dinheiro com isso, e também sentia que meu guarda-roupas não representava 100% minha pessoa. Aí vendi várias peças por um precinho baixo, dei mais valor às peças que tenho e gosto e não precisei comprar quase nada além do que eu já tinha pra montar um guarda-roupas mais funcional 🙂

  • AMEI esse gif, e adoro as cores que ela usa! Minha maior dificuldade de montar um guarda-roupas reduzido e funcional é que, em comparação às pessoas "famosas" na internet que falam sobre roupas -como ela-, eu não uso jeans. Eu acho TERRÍVEL de desconfortável. E ele combina com quase tudo ¬¬ hahha
    Estou tentando deixar meu guarda-roupas apenas com peças que possam criar um leque de combinações diferentes. E com calças de outros tipos de tecido eu acho tão complicado, porque é mais difícil achar algumas que sejam de boa qualidade e não muito caras! Fora que a cor também não ajuda – a maioria é preta, e aí se quero usar um sapato preto junto eu já fico muito dark hhahaha
    Aí o que acontece é que eu tenho 2 calças pretas que combinam com x blusas, 1 calça marrom claro que combina com y blusas, 1 calça preta e branca que combina com z blusas, tantas calças coloridas que combinam com w blusas. Quer dizer, é difícil que as partes de cima se encaixem com todas as de baixo.
    Penso em fazer algumas mais básicas e clássicas em costureiras, mas tenho que aprender melhor sobre os tecidos, ver alguns modelos que combinam melhor comigo e, principalmente, que sejam confortáveis!

  • Amei a sinceridade em dizer que as roupas feitas de forma mais artesanal são, sim, mais caras, e nem todos vão ter acesso, por isso o legal de comprar peças usadas. Excelente post, como sempre 🙂

  • Cristal, descobri ontem seu blog e estou encantada! Mas não consigo deixar de pensar nas pessoas que vendem roupas nas lojas… Eu tenho dó de imaginar as lojas fechadas… Como vc lida com isso?