Entrevista: as ecojoias feitas com materiais de reuso da Carol Barreto

* Esse post foi gentilmente patrocinado pela Ecojoias Carol Barreto.

É vendo a beleza de plásticos de embalagens de amaciante, shampoo e latinhas de alumínio que a Carol Barreto transforma esses objetos que seriam descartados em ecojoias como colares, brincos e pulseiras reutilizando os materiais em um processo que a gente chama de upcycling. É um trabalho delicado, slow, sob encomenda e que precisa de um processo de garimpo dos materiais e de abrir os olhos pra enxergar mais que um potinho que iria pro lixo.

Foi assim com aquela bolinha do desodorante roll-on que se transformou no Colar Uno e que me deixou enlouquecida quando vi no Instagram dela. Eu já acompanhava fazia um tempo, mas quem me conquistou foram as bolinhas e saber de onde elas vinham.

As peças que recebi* foram feitas especialmente pra mim com materiais que seriam descartados e transformados em produtos lindos. As peças são cortadas artesanalmente usando técnicas de ouvires, são bem acabadas e são leviiinhas. Os brincos são feitos de aço inoxidável pra não dar alergia (sou super alérgica e não tive nenhum problema!) e toda peça vem com tags explicando a origem e o percentural do material que é de reuso. 🙂

Brincos Uno feitos especialmente pra mim, menorzinhos.

1. Conta um pouco sobre você e sua história. 🙂

Quando ainda bem nova, eu montava algumas bijuterias para meu próprio uso, sempre gostei de brincos com um lado diferente do outro, mas era bem difícil encontrar algo assim para vender, então comprava conjunto de colar e brincos iguais, e como o pingente do colar era sempre maior, eu desmontava tudo e assim criava meus brincos com um lado maior do que o outro.

O ano de 2005 foi o ano em que a empresa onde eu trabalhava faliu e fui obrigada a trancar a faculdade de biologia. Me vi fazendo bijuteria e vendendo para as amigas como uma forma de renda extra.

Um dia olhei para o lixo seco que eu separava para o catador do meu prédio, e uma garrafa pet dourada de refrigerante me chamou a atenção, achei ela linda demais e pensei no que eu poderia transformá-la, e adivinha o que nasceu dali? Brincos lindos e junto com eles nascia a minha marca. Da garrafa pet dourada para as garrafas transparentes e em seguida para as latinhas de bebidas foi um pulo. Comecei tudo sozinha, com técnicas bem manuais e arcaicas, e com o dinheiro das vendas fui me especializando com cursos de joalheria e moda.

Colar Uno feito com embalagem de desodorante e lata de alumínio com 80% de upcycling.

2. Qual foi sua influência na hora de criar a marca?

Eu sempre fui aquela carioca da gema mesmo, que ama estampa e cores fortes até mesmo no inverno, de chinelo no pé e um par de biquínis sempre dentro da bolsa. Não suporto roupa desconfortável, sapato apertado e acessórios pesados. A Ecojoias é o reflexo disso tudo, tem uma pegada bem regional, que respira o dna brasileiro.

3. Como é o processo de produção das peças?

Todas as Ecojoias são feitas artesanalmente, com técnicas próprias e de joalheria.
Desenvolvo uma coleção por ano, sem seguir tendências nem estações, cada coleção é criada com base nas minhas experiências pessoais como viagens, sabores, lembranças de infância. As inspirações podem surgir do formato de um barco a vela, das folhagens, aves e até de algum prédio ou arquitetura.

Desenho as peças primeiro e depois monto os protótipos (alguns em papel cartão) para então confeccioná-los no material escolhido que pode ser em plástico, alumínio ou outro material. Esse processo do desenho até a peça final, pode durar 40 minutos ou 2 anos. Dependendo do projeto a peça pode dar super certo ou não ter um resultado final bacana, aí ela fica de molho.

Para cada uma existe uma técnica específica e um tratamento diferenciado, mas todas são tratadas com a mesma importância de um metal nobre: são separadas por tipo, espessura e cores, onde cada pedacinho não usado é destinado a reciclagem.

Não trabalhamos com estoque, as peças são feitas sob encomenda, com isso o cliente pode personalizar a sua peça, escolhendo a cor e tamanho que desejar, e ainda pode escolher peças de coleções mais antigas, que não saem de produção, deixando o consumidor livre para comprar quando desejar, sem a pressão de seguir temporadas.

Gargantilha Eclipse feita com reaproveitamento de plásticos.

4. De onde são os materiais utilizados?

Tenho parceria com algumas empresas que separam as latas de bebidas e garrafas pet em grande quantidade, mas a maior parte da matéria prima das Ecojoias vem de produtos domésticos como embalagens de amaciante, frascos de shampoo, produtos de limpeza. É um trabalho de formiguinha, recebo doações dos vizinhos do atelier, de amigos e dos próprios clientes das Ecojoias.

Existe um trabalho de conscientização ecológica depois que o cliente toma conhecimento do conceito e do material utilizado nas peças, ele nunca mais olha para o seu “lixo” da mesma forma, ele passa a ver valor e beleza nas coisas que descartamos diariamente.

Bracelete Gladiadora feita de garrafa pet e fio de algodão.

5. Qual a reação das pessoas quando elas descobrem que as peças são de “lixo”?

O bacana é que ninguém percebe que o material vem do lixo, não dá pra criar uma peça, olhar para ela e ainda ver o material de descarte ali, fica over. Por isso todas as peças acompanham uma tag explicativa sobre o material utilizado e também a porcentagem dele.

Author: Cristal Muniz

Cristal Muniz decidiu em 2015 que iria parar de produzir lixo e por isso criou o blog Um Ano Sem Lixo. Ao longo desses anos já deu várias palestras em escolas, universidades e eventos contando quais são os principais desafios e o que mudou na sua vida para alcançar o objetivo do lixo zero. Um ano virou uma vida e em julho de 2018 publicou o livro Uma vida sem lixo (Editora Alaúde), o primeiro livro sobre como ter uma vida lixo zero do Brasil.

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