O impacto do plástico (e outras coisas mais) nas mulheres

Texto feito por mim sobre foto de Karina Tess via Unsplash

Não bastasse todo o resto (risos nervosos), quem fica com o impacto da crise climática e quem sofre mais com os impactos do plástico?

Nós, mulheres.

Ainda que a gente seja muito mais engajadas em reciclar o lixo, coma menos carne, somos mais preocupadas com questões ambientais e de votar de acordo com elas: nós somos mais afetadas pela crise climática e pela poluição plástica.

A começar do começo: você já parou pra pensar como a rotina de uma mulher envolve muito mais contato com plástico e outras coisas potencialmente nocivas? A gente usa mais cosméticos que os homens (25% das mulheres dos países ocidentais industriais usa até 15 produtos diariamente) não só em quantidade mas também em toxicidade como tintas de cabelo e esmaltes.

Somos nós as responsáveis no geral da limpeza das casas que envolvem produtos bastante tóxicos (solventes, surfactantes, ácidos ou bases fortes, amônia, perfumes, etc) que são embalados em plástico, muitas vezes. A gente entra em contato com plástico inclusive intimamente, se usarmos absorventes descartáveis (vão ser cerca de 9600 unidades ao longo de cerca de 40 anos, gerando cerca de 150kg de lixo).

Os disruptores endócrinos (podemos citar ingredientes de cosméticos mas também plastificantes como o mais famoso, Bisfenol-A) nos afetam mais porque o ciclo e as mudanças hormonais acontecem mais ao longo da nossa vida (menstruação, menopausa, gravidez, amamentar). Já encontraram microplástico em órgãos humanos e, mais absurdamente, em uma placenta.

Tem vezes que eu preciso pensar bastante o que eu fazia antes e o que eu faço agora pra poder citar pra alguém que mudanças eu fiz na minha vida. Faz tanto tempo e ficou tudo tão automático que viraram pequenos hábitos: ou seja, difícil até de perceber no meu dia a dia que é diferente de outras pessoas. Mas eu tava fazendo um esforço aqui pra citar algumas das muitas coisas que a gente usa normalmente sem se preocupar com os impactos dessas coisas na nossa saúde e que deixei de usar:

  • tinta de cabelo
  • esmalte
  • produtos de limpeza convencionais
  • água engarrafada
  • comida no geral embalada em plástico
  • absorventes descartáveis
  • cosméticos irritantes como cremes depilatórios
  • perfume
  • perfumes pra casa
  • esfoliantes com microplástico
  • sacolinhas plásticas
  • comprovantes de compra (plástico)
  • embalagens de cosméticos que substituí pelos sólidos

Enquanto a feminilidade tá muito atrelada a nos “transformarmos” em mulheres através de vários desses processos inclusive os cosméticos, a masculinidade ainda tá muito atrelada ao consumo de carne (ler: A Política Sexual da Carne), ao domínio da natureza, à negação dos efeitos da crise climática (quem lembra do nosso ministro do meio ambiente postando foto de carne pra comemorar coisas como normas de desmatamento que ele anda afrouxando?).

Por exemplo: são poucos homens que me seguem (cerca de 10% do total de pessoas) e se importam a ponto de praticar as coisas e mudanças (que bom que vocês que existem aqui estão aqui!!!). Inclusive, homens no geral rejeitam práticas como carregar uma ecobag ou diminuir o consumo de carne porque se sentem menos “masculinos” (se você tem um amigo vegetariano ou vegano, sabe quantas piadas sobre ele ser gay ele já ouviu – mais risos nervosos).

Mas tem vários estudos que mostram que as mulheres têm 14 vezes mais chances de morrer em desastres naturais, somos mais pobres em comparação aos homens, e somos mais afetadas de diversas formas pelos efeitos da crise climática.

Digo isso não porque eu ache que temos que combater os homens individualmente, um a um (talvez um ou outro presidente rs). Mas sim porque o patriarcado é em si o problema. E faz mal pra todos nós, mas afeta mais as mulheres não só na vivência com os homens mas também nesses efeitos da crise climática. Mas é importante lembrar que essa é e tem que ser uma luta conjunta, de homens e mulheres.

Tô um dia atrasada pro dia internacional da mulher e esse não é um daqueles posts que traz alguma resposta ou solução, só deixa a gente nervosa e nervoso. Nesse e nos próximos dia da mulher, inclua na sua listinha de demandas: combater a crise climática em conjunto.

E seguimos! *emoji de punho fechado*

Referências:

Eu baseei esse post nesse do Modefica e nesse outro do Do The Green Thing. E tirei informações sobre a exposição ao plástico do Atlas do Plástico da Fundação Heinrich-Böll.

Author: Cristal Muniz

Cristal Muniz decidiu em 2015 que iria parar de produzir lixo e por isso criou o blog Um Ano Sem Lixo. Ao longo desses anos já deu várias palestras em escolas, universidades e eventos contando quais são os principais desafios e o que mudou na sua vida para alcançar o objetivo do lixo zero. Um ano virou uma vida e em julho de 2018 publicou o livro Uma vida sem lixo (Editora Alaúde), o primeiro livro sobre como ter uma vida lixo zero do Brasil.

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