Dermatologista Patricia Silveira responde as principais dúvidas sobre beleza natural

Esse post é o segundo da série de posts com respostas da dermatologista Patricia Silveira (@dermagreen) para as perguntas que mais recebo sobre beleza natural e cuidados com a pele (principalmente do rosto). Acabei dividindo a entrevista em dois posts, o primeiro é só sobre acne e pele oleosa!

A Patricia é médica, formada em 1999, com pós-graduação em dermatologia pela UFRJ e acabou entrando no mundo natural muito por causa da experiência pessoal e de buscar a acupuntura para resolver dores. Em 2004 começou uma segunda pós-graduação em medicina chinesa, muito mais pra praticar isso em si do que para necessariamente aplicar dentro da dermatologia. Mas foi por isso que ela começou a usar fitoterápicos (remédios feitos a partir de plantas) em tratamentos alternativos e auxiliares para questões da pele e hoje indica sempre que possível cosméticos naturais e tratamentos naturais. Quis muito fazer essa entrevista porque é muito importante a gente ter informações de profissionais qualificados e com fontes confiáveis, principalmente quando o assunto é beleza e cosméticos.

1) Pele oleosa, seca, mista, etc. são tipos de pele (a pessoa nasce com isso e fim) ou estados da pele (devido à rotina, cosméticos, alimentação)?

A pele é o maior órgão do corpo e é o órgão que conecta a gente com o mundo externo, então é óbvio que temos uma herança genética da pele sim. Os alérgicos (inclusive das questões respiratórias) costumam ter uma herança genética de uma pele mais seca e áspera porque ela já nasce com essa deficiência de produção da oleosidade natural. Ou também podemos nascer com uma genética de pele mais oleosa, com inclusive tendência a ter acne na adolescência.

Mas isso tudo também pode ser influenciado por questões externas, principalmente do clima da região onde você mora. A gente pode até ter uma tendência genética a pele oleosa, mas morar num lugar super seco como um deserto e passar a ter uma pele mais seca. A pele demora uns dias pra sofrer essa adaptação quando você muda abruptamente pra um novo clima (do verão do Rio pro inverno da Europa, por exemplo).

Com a alimentação a mudança na pele é ainda mais lenta. Sabemos que uma boa alimentação saudável com alimentos frescos, naturais vão te dar os nutrientes e antioxidantes que vão trazer benefícios como reduzir processos inflamatórios e melhorar a imunidade da pele. Isso tudo a gente sabe hoje que tá diretamente ligado à saúde do seu intestino. Um intestino com uma microbiota saudável tende a ser igual a uma pele também saudável e com menos inflamações. E o contrário também, então quem se alimenta de comidas ultraprocessadas, muita porcaria, coisas cheias de conservantes e principalmente açúcar e álcool que geram inflamação no sistema digestivo isso também se reflete na pele como piora de acne e rosácea. É um processo difícil pro organismo metabolizar muita química, gera muitos radicais livres etc.

Foto: Felipe Machado.

2) Sabemos que óleo vegetal hidrata mesmo a pele, mas como que ele funciona? Por que não necessariamente ele causa acne ou deixa a pele mais oleosa?

O óleo vegetal é superior em hidratação quando comparado ao óleo mineral porque tem diferença na concentração e combinação de ácidos graxos (os ácidos oleicos e linoleicos) e alguns outros agentes hidratantes. Essa diferença é responsável pela maior ou menor absorção desses óleos na pele. Todos os óleos vegetais são legais, ricos em nutrientes, antioxidantes e vitamina E mas nem todo óleo vegetal é indicado para peles oleosas e acneicas. Isso porque tem alguns óleos (mesmo vegetais) que não penetram tão bem na pele, ficam na superfície e isso pode causar obstrução do folículo da glândula sebácea levando a uma acne inflamatória.

Como a gente sabe qual óleo é o mais indicado? O que penetra melhor, normalmente os mais finos são os melhores. Você pode procurar tabelas e ver a relação dos óleos vegetais e o quanto eles são comedogênicos (causadores de obstrução).

Quando a pele recebe uma hidratação satisfatória e suficiente, ela mesma controla e faz um feedback negativo e inibe sua própria produção de óleo. Então é como se o produto que você aplica na pele fosse capaz de estimular ou de inibir a produção de oleosidade. Quando a gente usa produtos muito adstringentes com muito álcool, muito sabão ou água muito quente isso costuma estimular a produção de oleosidade porque a hora que você remove totalmente a oleosidade da pele, ela mesma vai ter um estímulo pra se reidratar. Se você, por outro lado, não remove com tanta intensidade ou usa produtos que contenham algum tipo de óleo vegetal você vai promover muito mais equilíbrio nessa pele. Nossa pele tem uma capacidade de auto controle e de adaptação pra manter níveis adequados de ph, hidratação, elasticidade, etc. pra ela funcionar bem.

3) Tem algum problema em não lavar o rosto com sabonete – lavar só com água morna – quando você não usa outros produtos, só um hidratante? A poluição precisa de sabonete para ser retirada?

Não tem problema não usar sabonete. Você pode usar só água morna, só água floral com disquinhos de crochê ou uma alga que você faça uma esfoliação leve. Eu uso pedacinhos de toalhas mais velhinhas com água floral pra limpar o rosto quando eu não quero lavar.

Sabonete é a forma mais tradicional, mas basicamente você não precisa usá-lo pra remover a poluição. Talvez precisa pra remover maquiagem, algum produto mais oleoso como filtro solar que tem uma fixação maior. E se fizer, que faça uma vez só (pra tirar esses produtos).

Eu evito ao máximo lavar demais o rosto pra não ter rebote de oleosidade como falei antes, então lavar o rosto no banho a noite, passa hidratante e de manhã não tem necessidade de lavar de novo.

4) Quem tem algum problema de pele como rosácea, psoríase, dermatite atópica pode “curar” os sintomas tendo uma rotina de beleza natural? Ou esses tratamentos sempre precisam de um dermatologista para dar certo?

A primeira coisa é que você precisa de um dermatologista pra ter o diagnóstico correto sobre qual doença você tem. As dermatoses mais comuns são normalmente crônicas, então você precisa fazer o controle sempre. Muitas vezes você controla durante um tempo e depois você vai precisar modificar sua forma de cuidar e é aí que entra o dermatologista pra indicar novas formulações e métodos de controle da sua doença.

Quem tem uma pele com poucos problemas, espinha aqui e outra ali, dermatite leve e só de vez em quando no couro cabeludo por exemplo é muito mais simples de fazer esse controle sozinho, com produtos naturais e até com produtos que você mesmo faça em casa.

Maquiagens com cor como pó e base servem como barreira física para o sol. Foto: Felipe Machado.

5) Precisamos usar protetor solar todos os dias ou isso é exagero? A luz de ambientes internos tem o mesmo efeito do sol mesmo?

É importante usar filtro solar principalmente pra quem tem uma pele muito clara, que tem mais propensão a ter câncer de pele, manchas e ceratoses depois quando mais velho.

Hoje em dia eu só indico filtros físicos, 100% mineral e de barreira, sem ingredientes que façam filtros químicos. Normalmente eles são compostos de dióxido de titânio, óxido de zinco ou argilas. Lembrando que maquiagem funciona como filtro solar físico. Usando base ou pó que cobre a pele todos os dias você está criando uma barreira física de proteção ao sol.

Eu acabo indicando normalmente pro corpo o filtro solar da Mustela para bebê, que é uma loção fotoprotetora 100% mineral e que tem menos conservantes por ser de bebê, porque não temos no Brasil um protetor natural e orgânico. Como ele é muito oleoso, eu costumo não costumo indicar ele pro rosto principalmente para quem tem pele oleosa ou com acne. Para o rosto indico bases que, por terem cor, funcionam como um filtro físico. A minha preferida e a que eu uso é a da Bioart, porque tem maior concentração de argila que ajuda a controlar a oleosidade ao longo do dia principalmente aqui no Rio de Janeiro. O pó deles também é rico em argila. Todas as bases das marcas de maquiagem natural e orgânica brasileira são legais, mas quanto maior a cobertura de cor, melhor a proteção do sol.

A luz azul/florescente não são iguais à radiação do sol: eles não causam queimaduras nem bolhas, descamação, nem câncer de pele. Mas essas outras fontes luminosas causam envelhecimento da pele porque causam muito radical livre, que é um estresse oxidativo pra pele. Elas também são capazes de manchar e causar uma pigmentação de manchas já existentes como melasmas. Pra esse caso, indico o uso de produtos ricos em antioxidantes durante a noite pra combater esses efeitos dos radicais livres  da luz artificial.

6) O que fazer pra evitar e tratar manchas de pele de forma natural?

Principalmente fazer fotoproteção porque onde não tem fonte luminosa, não tem estímulo pra pigmentos, esse é o 1º passo. Alguns ativos são clareadores como alguns cítricos (que são perigosos no sol então tem que tomar muito cuidado!). E esfoliar a pele porque você promove uma remoção da camada de células mortas e estimula uma produção de uma pele nova que normalmente é formada mais clara.

Muitas manchas são causadas pela exposição ao sol de uma vida. A principal fotoproteção é até os 18 anos, que é quando você já acumulou muito dano dessa radiação que vai te causar as manchas quando você tiver mais de 30-35. Não é o sol do verão anterior.

Foto: Felipe Machado.

7) Existe algum problema em usar toalhinhas ou discos de crochê reutilizáveis pra tirar a maquiagem? Uma leitora me perguntou se não sujo demais reutilizar.

Claro que pode. Você tem como higienizar esses itens, né? Você pode lavar com água fervendo, colocar dentro de uma mistura de vinagre e bicarbonato de sódio, colocar no sol bem forte… Tudo isso vai higienizar muito bem pra você continuar usando as toalhinhas ou disquinhos. Eu, como falei, corto toalhas bem puidinhas em pedaços menores, uso uma ou duas vezes e junto tudo pra lavar no final da semana. É só higienizar com certa frequência, é a mesma coisa com pincéis que você reutiliza mas não lava todo dia.

A não ser que você tenha alguma lesão infectada, aguda, de origem bacteriana no rosto como um furúnculo, que você esteja contaminado com stafilococos aí não acho bom. É melhor usar um pouquinho de algodão e descartar até que a lesão esteja controlada.

8) Existe algum caso que você não recomenda usar produtos naturais pra pele? Quais são esses?

Pros problemas de pele mais usuais e a médio/longo prazo os produtos naturais super funcionam. Mas se você tem alguma doença aguda (vírus da herpes, infecção) eu acabo entrando com remédio tradicional (antibiótico, antiviral) pra acelerar o tratamento. Depende muito da intensidade e do tamanho do problema a ser tratado.

9) Quais são os principais erros que as pessoas cometem no cuidado com a pele que poderiam ser evitados?

1) Usar muita coisa, não ter uma persistência em usar o mesmo produto dias mais consecutivos, trocar muito de produto pode atrapalhar e não dar chance de achar um produto legal pra sua pele. Você acaba nem deixando aquele produto ter sua ação e mostrar seu efeito. Você lava dois dias com uma coisa, no terceiro já usa outra, no quarto você já trocou de hidratante, no quinto de tônico. Essa ansiedade de ter uma resposta rápida é um dos grandes problemas que a gente enfrenta no dia-a-dia.

2) E mudar hábitos. Temos esse padrão de “lavar, tonificar e hidratar” e não necessariamente a gente precisa fazer isso todos os dias ou em todos os momentos ou três vezes ao dia como já foi indicado no passado. É achar a rotina ideal pra você e os ingredientes indicados para o seu tipo de pele.

10) O que não pode faltar na rotina de beleza básica de todo mundo?
1) Alguma coisa pra limpar – pode ser um esfoliante suave ou hidrolato pra você limpar sua pele. 2) Fotoprotetor ou maquiagem que cria uma barreira física pra usar de manhã. 3) Algum tipo de hidratante pra usar depois de limpar a pele. Com esses três você resolve sua vida.

Pra ler mais:

Entrevista: o que causa e como tratar a acne de forma natural por Patricia Silveira, dermatologista

Author: Cristal Muniz

Cristal Muniz decidiu em 2015 que iria parar de produzir lixo e por isso criou o blog Um Ano Sem Lixo. Ao longo desses anos já deu várias palestras em escolas, universidades e eventos contando quais são os principais desafios e o que mudou na sua vida para alcançar o objetivo do lixo zero. Um ano virou uma vida e em julho de 2018 publicou o livro Uma vida sem lixo (Editora Alaúde), o primeiro livro sobre como ter uma vida lixo zero do Brasil.

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