como ter um guarda-roupa mais sustentável

Meu guarda-roupa vintage charmoso

Eu percebi que definitivamente sou um ponto fora da curva quando se trata de guarda-roupas. A maioria das coisas que tenho ali tem vários anos. Mas eu não tô dizendo isso pra me comparar com ninguém e dizer como sou melhor. É só que, por algum motivo, eu sempre fui muito apegada às minhas coisas e quero que elas durem 10 anos, não 6 meses. E quando compro coisas novas, espero que elas cumpram essa função. Mas eu nunca fiz isso muito pela sustentabilidade em si, mais por conta do dinheiro (gasto em panelas e toalhas mas não gasto em roupas).

Ter um guarda-roupa sustentável não é nem só comprar roupa usada, nem só não comprar roupa, nem só ter roupas feitas com algodão orgânico. Ter um guarda-roupas sustentável é ter aquilo que você vai usar e usar tudo aquilo que você tiver. É cuidar, é questionar e se preocupar.

Você não precisa comprar uma peça nova todo mês
Definitivamente não precisa. Eventualmente você precisa de um vestido novo, um casaco, umas blusas. Não todo mês. Não adianta parar de comprar de lojas fast fashion e continuar agindo com uma consumidora de fast fashion.

Tenha menos
Abra seu guarda-roupa e conte quantas peças têm lá. Mais de 100? Mais de 200? Isso não é sustentável em nenhum aspecto, mesmo que tudo aí dentro seja reciclado, de algodão orgânico e feito com mão de obra justa. E seja sincera: você usa tudo o que tem no seu guarda-roupas? Ter 100~200 peças com certeza garante uma bela folga entre o uso de uma peça até chegar na última, sem repetir. Pense em fazer uma mala com as coisas que você mais gosta e mais usa e vai ter a resposta pras peças que deveriam ficar aí dentro.
Iniciativas como a Roupateca e a Lucidbag, bibliotecas de roupas onde você aluga peças por alguns dias também são muito legais. A gente não necessariamente precisa ter aquela peça, pode usar por um tempo e depois devolver.

Tenha melhor
A chave para um guarda-roupas sustentável é ter roupas de qualidade. Isso significa materiais que durem mais lavagens, bom acabamento e modelagem. Isso também provavelmente vai significar um custo maior por peça, porque algo bem feito custa mais caro. Mas lembre-se: qualidade é melhor que quantidade.

Cuide bem
Aprender a lavar, quantas vezes lavar, passar, como dobrar e guardar de um jeito que a peça não deforme é super importante. Não adianta ter aquele casaco maravilhoso e jogar na máquina de qualquer jeito para quando tirar perceber que ele encolheu três números. Dá pra usar menos sabão em pó na lavagem, dá pra usar esse sabão que faço que é bem menos agressivo, parar de usar amaciante e trocar pelo vinagre e garantir menos agressão às fibras do tecido.

O produto mais verde é aquele que já existe
Vou sempre bater na tecla que comprar usados é mais legal do ponto de vista ecológico porque é um produto que já foi produzido. Mas não adianta encher o guarda-roupas de peças usadas só porque é baratinho. E, às vezes, comprar uma usada de péssima qualidade é pior que uma nova mas de alta qualidade e que vai durar muito. Ainda assim, nem todo mundo consegue achar o que precisa sendo usado, seja por conta do tamanho, seja por conta do estilo.

Consuma consciente
Além de saber que você não precisa de muitas peças, é importante saber de quem você está comprando. Compre mais do pequeno e pare de comprar das grandes redes de lojas. Procure marcas que tenham materiais e produtos finais de alta qualidade. Marcas que se preocupem com a produção, que ela seja feita no Brasil e seja justa. Marcas que falem sobre consumo consciente, que queiram que você tenha uma peça de roupa só se você realmente precisar dela. Marcas que tenham preocupação com o custo ambiental da sua produção, seja buscando materiais mais sustentáveis seja criando produtos sob novos olhares (como o upcycling e a ressignificação).

Se responsabilize pelo depois
No Brasil não temos reciclagem de tecidos. O que significa, em suma, que as roupas que não são mais usadas vão pros aterros sanitários, sem chance de reciclagem. Por isso, mesmo que a tentação de comprar seja enorme, pense em quanto tempo essa peça não estará anunciada na sua lojinha do enjoei ou numa caixa de doações. O mínimo que podemos fazer é aproveitar muito bem aquela peça, usá-la até o fim da sua vida, para compensar todo o custo ambiental da produção e tingimento do tecido, do transporte, da manufatura, das lavagens, etc.

Ah, e se você já tem tudo que precisa no seu guarda-roupas: não compre mais. Não comprar é, muitas vezes, o ato mais sustentável que você pode tomar.

Continue lendo sobre:
– Como avaliar a qualidade da roupa
– Aula de manutenção das roupas parte I (dicas de lavagem e armanezamento)
– Dica para manchas em roupas
– Mais posts sobre consumo consciente lá no Oficina de Estilo
– Para onde vão as roupas usadas que saem do seu armário
– O que fazer com as peças de roupa que você não quer mais
– Mapa colaborativo com: costureiras, lugares para doar, cursos, marcas legais, brechós

Esse post é o resultado da conversa com as meninas da Oficina de Estilo e a Fê Canna, lá no twitter.

Author: Cristal Muniz

Cristal Muniz decidiu em 2015 que iria parar de produzir lixo e por isso criou o blog Um Ano Sem Lixo. Ao longo desses anos já deu várias palestras em escolas, universidades e eventos contando quais são os principais desafios e o que mudou na sua vida para alcançar o objetivo do lixo zero. Um ano virou uma vida e em julho de 2018 publicou o livro Uma vida sem lixo (Editora Alaúde), o primeiro livro sobre como ter uma vida lixo zero do Brasil.

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  • Sensacional esse post, Cristal! Vi os coments entre vocês… e pensei numa coisa que eu tenho pensado: não basta só não comprar… é preciso comprar com qualidade, com consciência! Uma coisa boa seria indicar lojas sustentáveis pra gente… penso muito nisso! Mesmo não comprando quase nada ultimamente logo precisarei, sei disso, e pra isso quero coisas de qualidade, com respeito ao meio ambiente ao invés de só desejo de lucro!

    BEIJO!

  • Oi, Bruna!
    Tô mesmo preparando marcas sustentáveis pra postar aqui 🙂 Mas achei que precisava dessa introdução antes! Fica ligada que na próxima semana já devem sair as listas 😉

  • Olá. Gostei muito desta publicação, só óptimas dicas. Relativamente à reciclagem de tecidos, aí no Brasil não existe a loja H&M? É que eles têm uma campanha de reciclagem de tecidos, recebem-nos. E não é preciso ser roupa boa sequer, eu costumo entregar restos de tecido que me sobram de cortes e costura ou até mesmo trapos de limpeza já rotos. Eles aceitam tudo.

    Cá também em muitas cidades há contentores na rua para entrega de tecidos para reutilizar, mas ainda não é geral por todo o país, mas já se encontra em muitos sítios.

    Sónia
    http://www.tantolixotantoluxo.blogspot.com

  • Eu tenho muita roupa no meu quarto de vestir. Muito mais do que deveria. E é bem isso que você falou, Cristal: tem que investir na qualidade. Tenho camisas que eu sei que tenho há 10 anos (porque comprei assim que passei no concurso público) ao lado de camisa fast fashion comprada no inverno que já sei que vão durar mais uma estação e olhe lá. Já pensei em doar 80% e começar a usar o esquema capsule wardrobe (vide Pinterest), mas mudei de ideia com outro post seu: jogar tudo " fora" pra comprar com uma pegada sustentavel também não tem naaaaaada de sustentável, até mesmo porque com fast fashion a verdade é que ninguém tá mais a fim de roupa doada porque (1) a qualidade é tão baixa que quando chega no ponto de doar tá imprestavel (2) as camadas da população que recebiam a doação já estão comprando a roupa, novinha, made in China. Enfim… 6 meses sem comprar roupa (só meia calça!) e contando.

  • Infelizmente, só muito tarde minha consciência para o consumo consciente de roupas despertou. Já evito comprar e mais ainda evito a cultura fast-fashion, SOBRETUDO aquelas lojas que estão na lista negra do trabalho escravo. Nessas nem entro, nas outras confesso que caio em tentação às vezes. Sou muito orgulhosa do meu estilo, que busco construir de acordo com a minha personalidade, e não com as tendências, embora sempre me mantenha informada sobre o que está rolando na street-fashion do mundo todo. A questão é: esse prazer em ter roupas que me definam vem de cedo. E agora cheguei em um ponto que não sei mais o que fazer com as roupas que já superlotam meu armário. De muitas delas quero me livrar. Quero começar de novo. Quero pensar menos em preço, mais em garimpo, achar mais pérolas e menos miçangas por aí. Mas o que fazer com essas roupas que já tenho e não uso? Qual o modo mais sustentável e menos impactante para o meio ambiente de fazê-las circular? Não me dei muito bem com o enjoei porque fiquei desligada dos e-mails que recebia. É minha única saída?

  • Oi 🙂
    Com certeza as roupas das grandes marcas de hoje em dia são de uma qualidade sofrível. Tenho algumas coisas que comprei há uns 2 anos e me sinto vestindo trapos, acho impressionante como não dura nada e descostura fácil, diminui de tamanho e tudo mais.
    Parabéns pelas não compras e que, quando elas vierem, que sejam de marcas pequenas, sustentáveis, de alta qualidade e que durem 10 anos como essas camisas 🙂

  • Oi, Ana Flávia! Tem vários jeitos: você pode organizar com amigas um evento de trocas – cada uma leva algumas coisas ou você separa as suas e convida elas pra escolherem algo que queiram.
    Você pode fazer uma lojinha no enjoei – que realmente dá um pouco de trabalho, mas também dá pra fazer um tumblr ou um álbum no facebook só seu com suas peças e combinar de vender pra quem quiser.
    Acho que o melhor jeito é garantir que a outra pessoa vai gostar e usar daquela peça – e não simplesmente doar pra alguma instituição de caridade.
    Aliás, algumas dessas tem brechós pra arrecadar fundos, então isso pode ser interessante também.
    Mas acho que antes de pensar em garimpar MAIS coisas, você tem que garimpar no seu próprio guarda-roupa 🙂

  • Mas aí na H&M fazem recolha ou não? Eu sei que na Europa, a H&M faz recolha, mas também não sei onde depois reciclam as roupas, se calhar é na Ásia o que me faz pensar que também não sei se é muito sustentável estar a enviar roupa para ser reciclada a quilómetros.

    Mas bem sei que há mesmo indústrias em Portugal que reciclam roupa, sobretudo para a indústria de componentes.

    Mas isto da reciclagem tem muito que se lhe diga, há uns anos fui visitar uns centros de triagem de resíduos e lá disseram-nos que grande parte do cartão recolhido ia ser reciclado na China.

    No fundo, o mais importante é mesmo reduzirmos o consumo.

    Sónia

  • Querida Cristal, me identifico muito com você, somos cancerianas, os cancerianos por natureza não são muito consumistas por isso temos mais facilidade em produzir menos lixo….eu sou assim também tenho roupas de muitos anos atrás…tenho uns moletons de 1996!!!! que já modifiquei algumas vezes….eu tenho um estilo de vida mais simples,mas ainda falta muito…espero conseguir produzir o mínimo possível…muito obrigada pelo seu blog, me fez refletir em muitas coisas…bjs Renata

  • Olá. Adoro o seu blog e já acompanho à algum tempo. Quanto à H&M, ligue para a linha de apoio no Brasil. Muitas vezes não publicitam. Em Portugal recolhem e depois é reciclada na Suíça ( dizem).
    Obrigada e continue a escrever:)

    Sara Amaral

  • Olá. Adoro o seu blog e já acompanho à algum tempo. Quanto à H&M, ligue para a linha de apoio no Brasil. Muitas vezes não publicitam. Em Portugal recolhem e depois é reciclada na Suíça ( dizem).
    Obrigada e continue a escrever:)

    Sara Amaral

  • Oi! Existem indústrias que recuperam tecidos como a Ecosimple, mas não existe coleta seletiva de tecidos e resíduos têxteis. Não tem como a gente mandar nossas roupas todas pra eles, ou seja, o problema segue existindo.

  • Oi! Existem indústrias que recuperam tecidos como a Ecosimple, mas não existe coleta seletiva de tecidos e resíduos têxteis. Não tem como a gente mandar nossas roupas todas pra eles, ou seja, o problema segue existindo. Os bancos de tecidos são incríveis, mas não são suficientes para lidar com os resíduos têxteis.