por que eu não vou mais comprar roupas de fast fashion feitas na China

Uma das premissas do zero waste é usar tudo até “acabar” de verdade. O restinho de comida do prato, o finalzinho do hidradante e a roupa até estragar – de verdade. Com os preços cada vez mais baratos das roupas que estão na moda a descartabilidade dessas peças também é altíssima. Me pego a cada poucos meses fazendo limpas nas minhas coisas (e olha que eu não acho que seja uma pessoa que tenha muita roupa não) e tirando pilhas e pilhas de coisas.

Por isso a ideia de comprar roupas e sapatos de 2ª mão é tão bem aceita: ao invés de produzir algo novo, você está usando algo praticamente novo que alguém não quis mais. Nesse sentido, a gente quer peças de melhor qualidade, que durem mais lavagens, mais usadas, não rasguem tanto, não estraguem tanto e sejam mais versáteis na questão do estilo.

Qualidade x quantidade
Roupas de fast-fashion parecem durar o tempo antes da próxima coleção ir para as lojas: uns 3 meses, atualmente. Mais raramente a gente acha uma peça que não seja um transformer e na primeira lavagem mude de tamanho, descosture, mude de cor etc. Vale mais pro bolso e pra consciência ambiental ter menos peças e de qualidade superior porque elas vão durar mais tempo (então vão valer mais o custo de produção) e porque você não precisa repor o tempo inteiro (gastando menos individualmente e mais ao longo do tempo).

Consciência tranquila
Existem inúmeras denúncias de trabalho escravo para indústrias têxteis – fora do país mais comumente na China e na Índia, por exemplo, mas também aqui no Brasil. É difícil de confiar nas redes de fast fashion, mesmo as que dizem e tem muitas peças produzidas aqui (como a Riachuelo e a Marisa), mas é mais difícil de confiar nas etiquetas que dizem “Made in China”.
A gente sabe que as condições de trabalho para se produzir uma peça vendida a um preço tão baixo são duvidosas e altamente questionáveis. Apesar delas não esbarrarem necessariamente na nossa legislação, eu não concordo com isso, então não quero mais ser colaboradora dessa roda.

Precisar x Querer
É simples: a gente não precisa de tanto. A gente é induzido a querer muitas coisas que a gente acaba comprando e nem usando (quem nunca, né?). Ou seja, você vai usar o que você tem e economizar em não comprar o que você não ia mesmo usar.

Custo ambiental
Fabricar roupas custa muito no sentido de recursos (dinheiro, água, luz, químicos para tingir os tecidos, mão de obra para costurar, transporte, armazenamento, venda) e a gente não precisa gastar tudo isso o tempo inteiro, nem ter esse custo com a roupa sendo pouco usada ou descartada rapidamente.

Roupas de 2ª mão são mais baratas
Fim. Brechós são bem mais baratos que lojas no shopping. Além de outras opções de graça, como trocas entre amigas e bazares de compra e venda com valores simbólicos.

É mais simples
Menos é mais fácil de lidar. E permite ser mais criativo, já que você vai transformar as mesmas peças em combinações diferentes.

Marcas locais são mais legais
Caso não dê pra comprar roupas de 2ª mão quando você precisar de algo novo, é mais legal comprar coisas de marcas locais e artesanais que respeitem conceitos mais ecológicos, como a Insecta Shoes, que já falei aqui.

Para seguir no assunto, acompanhe:
Modefica (site sobre tudo dentro do mundo consciente e verdadeiro)
Roupa Livre (movimento para aprender a olhar de um jeito diferente as nossas roupas)
Paris To Go (blog super legal com dicas de otimizar seu guarda roupas)

 

 

Author: Cristal Muniz

Cristal Muniz decidiu em 2015 que iria parar de produzir lixo e por isso criou o blog Um Ano Sem Lixo. Ao longo desses anos já deu várias palestras em escolas, universidades e eventos contando quais são os principais desafios e o que mudou na sua vida para alcançar o objetivo do lixo zero. Um ano virou uma vida e em julho de 2018 publicou o livro Uma vida sem lixo (Editora Alaúde), o primeiro livro sobre como ter uma vida lixo zero do Brasil.

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  • Eu também não gosto de comprar em lojas de departamento. Já fiz matéria sobre isso (quando aquela fábrica em Bangladesh pegou fogo). Mas, às vezes, acabo comprando e não me sinto bem. Infelizmente a gente acaba ficando meio "seduzido" pela vitrine e pelo preço mais baixo. O melhor exercício, além de pensar nessas questões, é ver se de fato precisamos mesmo de roupas novas. Parabéns pelo blog, adoro!

  • Pois é, é super difícil resistir já que a gente tá nesse mundo pra consumir, né? Mas acho que quando a gente começa a problematizar essas questões e ponderar tudo isso, também tem menos vontade de comprar certas coisas. Acho que é bem mais recompensador levar pra casa algo de 2ª mão e que você pagou super pouco ou uma peça de uma marca local que você sabe quem costurou. São pequenos passos ajustando as vontades, o tempo todo. 🙂

  • Cristal, adorei o post!! entrei no Roupa livre e eu e meu marido ficamos chocados com a quantidade de água que se gasta para produzir uma calça jeans. A gente usa os jeans até acabar e depois transformo em bolsas ou bonecos, nas minhas eco-costurices (acabei de inventar esse termo kkkk).
    Obrigada pelas dicas e uma linda semana pra ti!!!
    bjsss

  • oi cristal!!! hoje uma amiga minha me mandou o link do teu blog e tenho que dizer que foi o ganho do meu dia!!! to exatamente nesse momento, formulando uma postagem sobre o teu blog no meu, e gostaria de saber se vc concorda?! a tua ultima postagem fala de um assunto que acho incrivelmente relevante e que tb tenho vontade de abordar…sou figurinista amo brechós e meu material mais precioso são roupas usadas que remodelo e reconstruo. além de sentir que essa é a prática que mais me estimula e desafia profissionalmente acredito nisso como uma forma de ação que causa menos dano … considero toda a cadeia de produção e consumo da moda completamente chocante… o impacto ao meio ambiente, a exploração humana, a fetichização insaciável, enfim… (pensei em deixar lá tb o link prá essa tua postagem). bom, prá finalizar te parabenizo pela iniciativa, que além de ser um incrível projeto pessoal ainda é super interessante e útil prá quem estiver procurando possibilidades de consumo e ação nessa direção.além disso o blog é lindo!!!!!!!!!!! 🙂 bjos

  • oi cristal, sou eu novamente…fiz a postagem sobre o teu blog!!! qualquer coisa que te desagrade por favor me avise que eu tiro ou troco, me refiro aos créditos das imagens pois é possível que queira de uma outra forma… muito obrigada pelo projeto e muito sucesso no teu caminho! bjos adriana

  • boa idéia…tem brechós com peças muito bem selecionadas,peças totalmentes impecaveis e exclusivas! ja comprei um vestido muito chique de chifon lindo por 25 reais,foi totalmente dado,pela qualidade e estilo da peça…

  • Cristal, também estou bem feliz de ter encontrado seu blog. Com tantas coisas duvidosas na internet é um alívio para alma encontrar um trabalho tão sério. Conheço e amo a Insecta Shoes, e compro sapatos também na Ahimsa. Quando se trata de roupas compro só se muito necessário. Mas sempre que preciso fico com muitas dúvidas sobre onde comprar. Sabe tipo marcas do Brasil, produzidas no Brasil…sem trabalho escravo. Você poderia fazer um post sobre isso (se já não fez….sou nova aqui!). Beijos Natalia

  • Amei e amei! Ainda ontem estava escrevendo algo similar para o blog. Sou super adepta de brechós e tenho meus favoritos na minha cidade. Cristal, não seria interessante no grupo do face ter um link onde pudéssemos indicar bons brechós em nossas cidades? Seria um bom incentivo a esse tipo de consumo mais consciente. Beijos mil (adoro teus posts)

  • Brasil (fast fashion e ze paulino em geral), china, bangladesh (youtuba isso p entender melhor), india… N tem como uma peça vir de la, pagar aluguel de shopping e custar 120 reais. Tem, mas é as custas de extrema, extrema injustiça.